Hoje tenho 27 anos, tenho uma profissão,
fiz uma graduação, adoro estudar, ver série, tenho um emprego que gosto, me separei.
Depois de quatro anos, um relacionamento que terminou assim como começou, de
supetão, intenso e sem pedir licença, do jeito que todo mundo queria que os
relacionamentos terminassem, de forma leve, com amizade e amor, sou muito grato
por isso.
Mas depois de quase três décadas neste
planeta, tenho algumas certezas, amo estar casado, amo aprender, sou carente e
quero ter um filho. Escrever assim os meus desejos os tornam mais palpáveis (e
olha que faz tempo que não escrevo), mas uma coisa está me incomodando depois
da separação. No início do fim, achei que meu problema seria o flerte, o
contato, conhecer uma nova pessoa e deixar que ela te conheça, mas de longe é isso
a dificuldade deste momento, o que quero é um marido “pai de família”.
Eu também me pergunto o que é
querer um “pai de família” para ser o homem com quem você quer dividir sua prole,
mas minhas dúvidas e frustações me fazem tornar essa pessoa cada vez mais palpável.
O “pai de família” não te cansa
(e quando cansa ele desaparece, vai procurar um outro jeito de resolver qualquer
problema do qual você não seja apto), ele não faz muitas perguntas e te elogia
com certa frequência, ele é um bom pai, um bom filho e ouve música ruim, algo
que trás todo um charme. Ele é tranquilo, de uma forma que só um ser pisciano consegue,
ele faz a parte dele no relacionamento e gosta de te ouvir, sem opinar muito.
Ele tem uma profissão comum, algo
entre gerente de-qualquer-coisa e contador, não é muito criativo e viaja para o
mesmo lugar duas vezes por ano, ele assiste jogo de futebol no domingo e lava a
louça depois do jantar, faz lição de casa com o filho e toma dez latas de
cerveja no fim de semana (quatro na sexta, três no sábado e três no domingo).
Com ele não tem montanha-russa, é
só pedalinho no lago tomando sorvete de flocos, ele é meio bobo quando precisa,
canta alto no carro e faz macarrão à bolonhesa, mas também é sério, mas sem discussão,
ele cuida do imposto de renda, do IPVA, do IPTU, do convênio médico e dos
boletos com prazer.
Esse “pai de família” faz sexo duas
vezes por semana, em dias pré-estabelecidos, sem grandes peripécias ou fantasias,
sexo normal e ponto. Ele é romântico de vez em quando, te leva para jantar num
restaurante caro uma vez por mês e no motel uma vez por ano. Ele também não é velho
a ponto de não conseguir correr com o filho, mas também não é jovem a ponto de
querer ir a um show de rock.
Esse cara é alguém com quem eu me
casaria sem pestanejar, sem festa cara, nem viajem internacional, com quem eu
moraria num apartamento de 70m² em Perdizes, com o filho, um cachorro e um
peixe, numa vida entre o pacato extremo e o minimamente agitado, uma vida que eu
não posso afirmar que amaria, mas todas as minhas questões, minhas angustias, meus
medos, minhas loucuras acabariam, porque eu também seria um pai de família.