Eu tomei um fora

Tenho vinte e um anos e confesso que isso nunca me aconteceu,  olha que sempre me preparei para esse momento, premeditando um passo-a-passo com  tudo o que eu faria para me recuperar dele, já até tinha em mente uma foto bem tirada contra a luz de motivação com a música da Adriana Calcanhoto na legenda, comprar um monte de coisas novas e um porre, não bem nesta ordem.
Nunca me preparo para que as coisas deem certo, sou otimista só para os outros, pra conselho e pra foto do instagram, na real eu sou assumidamente um romântico incurável, câncer em câncer, mas secretamente um pessimista passional, doa a quem doer, que no caso sou só eu.
Mas no fim, o fora chegou e eu, que já o esperava, não estava nada preparado, me senti perdido e sem controle do final trágico que meu pessimismo tinha pintado. Foi terrível. Eu sempre me descontrolo quando tudo dá certo, se uma coisa vai de vento em popa, meu coração dispara e eu começo a autossabotar a felicidade, me preparando para quando ela acaba, quando alguma coisa vai dar errado e voltar tudo em seu ciclo normal de incertezas certas.
Piegas foi eu estar esperando no bar cheio de casais com o copo na mão e vontade de atirar o telefone no asfalto, tudo foi tão clichê que eu posso comparar com em média doze comédias românticas que eu assisti nos últimos tempos. Piegas foram as promessas que eu jurei fazer no dia seguinte, mesmo eu sabendo que não ia cumprir nenhuma sequer. Piegas foi eu querer uma mudança radical de vida e imaginar treze novos rumos diferentes para os meus dias, mesmo sabendo que com um pouco de analise nenhum daria certo.
Mas o que realmente aconteceu, e foi o fato que mais me surpreendeu neste roteiro clichê, foi que nada mudou, não estou fazendo mochilão por ai, nem gastei um salário em roupas, muito menos tomei um pote de sorvete ouvindo música de fossa. Eu acordei no outro dia e o máximo de diferença era ter um contato a menos na agenda do telefone. Eu andei de bicicleta até as pernas não aguentarem mais, parei, tomei uma caipirinha e vi um pornô. Já não lembrava mais.
Hoje eu ouvi a música "Drão" do Gil e sua história me inspirou loucamente, existe uma beleza no fim que só os romancistas vão saber aproveitar.
Eu tomei um fora e estou aqui, espero que venham outros. Ah, se eu fosse marinheiro.