Feliz, lúcido e bom.

 

Escrevo porque estou triste, porque preciso parar de fumar, porque preciso parar de beber, porque o ano está acabando e eu ainda não consegui me encontrar neste turbilhão de sentimentos fúteis que eu ainda sinto incessantemente.

A sensação de pertencimento é uma dádiva, algo que família e amigos conseguem te trazer de forma gratuita e acessível, mas seu revés é simplesmente a jornada mais solitária que se pode viver o herói (sem o heroísmo, é claro, apenas nesta ideia de narrativa). Ouvi algo sobre os apátridas este ano e aquilo me marcou feito ferro quente, me senti horrível por imaginar pessoas que não tem pátria, que não tem cama, nem paredes, nem nação, mas jamais imaginei que me sentiria horrível pensando em mim.

Eu sempre gostei de ficar sozinho, de ficar apenas com meus sentimentos. Beber sozinho, ouvir sozinho, cantar sozinho, dançar sozinho. Mas essa sensação vem diminuindo a cada momento, talvez porque eu nunca tenha estado de fato apenas em minha companhia, eu gostava da lacuna entre meu convívio social e essa “solidão”. Hoje me sinto só, da maneira “apátrida” de ser, com a família longe, sem ninguém do lado da cama, meus amigos seguindo suas vidas, numa cidade que te engole a cada segundo e te faz ter cada vez menos coragem de abrir a porta.

Me tornei um covarde de mim mesmo, daqueles que estão cercados de pessoas, que fazem a piada que as pessoas querem ouvir, que ganham dinheiro, que se abrem para todo mundo, que contam vantagem do apartamento no Centro, que reclamam de tudo da vida (corrida, cansativa, enfadonha), mas que não entregam nenhum pingo de coragem quando estão sós.

Eu estou só. E isso só me leva a soluções horrorosas, como mudar de casa, adotar um cachorro, namorar o primeiro que aparecer, sair com o ex-qualquer coisa e fingir ser um casal, voltar para a cidade natal, tentar buscar pelo resto de esperança e colágeno que um dia houve, sair sem rumo diariamente e, o pior, entrar numa academia.

De todas essas a única que consigo realizar com firmeza é dirigir pela cidade, sem rumo, passando por todos os lugares que te fizeram feliz em algum momento e assistir por trinta segundos, enquanto o farol não abre, desconhecidos sendo felizes nestes mesmos lugares.

Nunca gostei de disputas, pois sou um perdedor horrível, fica bravo, falo palavrão, choro. Agora perder pessoas com que você conheceu profundamente e que hoje são “just somebody that I used to know” é o pior tipo de perda possível. É sentir que você também é apenas alguém que essas pessoas conheceram, alguém que não tem mais relevância.

Neste próximo ano, não vou fazer promessas, não vou usar branco no réveillon, nem vou fazer desejos. Serei apenas o cara que ainda fuma, que ainda bebe muito, que ainda sente saudade e ainda que está triste.

Mas principalmente, serei o cara que no fundo gosta do que vê diante do espelho.