Teu lugar

Eu sempre tive medo da minha morte, pode parecer egoísmo, mas sempre me conformei com a morte dos outros. Talvez a vida seja esse filme cheio de percas que eu, diretor, tenho medo que se apague.
Não consigo me lembrar a quantos anos perdi meu avô, mas me lembro com extrema clareza da sensação, do telefonema, dos olhos da minha mãe, minha irmã entrando pela porta, as lágrimas que eu não derramei.
Me senti, por muito tempo, culpado por não chorar a morte de meu avô. Tenho poucas lembranças com ele, sempre moramos separados e as longas viagens pra outro estado não eram frequentes, mas sua exímio beleza era de desorientar, por muito tempo quis parecer com ele, desejei que minha mãe se parecesse com ele, mas, meu avô, era alguém único que não dividiu seus traços com nenhum dos filhos. Penso agora que nunca soube de sua história, antes de minha avó e de todos meus tios,  nunca foi me dividido seu caminho até chegar a casa de chão de madeira onde viveu até o fim.
Hoje o avô de minha melhor amiga morreu, ele já vinha passando por algumas complicações e eu acompanhei de longe todas as incertezas de uma família, eu a amo tanto e não consegui vê-la neste dia de tristeza, pensei em escrever algumas palavras, mas tenho essa enorme defasagem com o conforto sob a perca, espero que a dor diminua e a saudade aumente.
Com o tempo entendi que não chorei por meu avô porque estava muito preocupado com a dor da minha mãe pra viver a minha.
Eu nunca conheci o avô da Nayara.